“A moda é um luxo, não é uma necessidade, ela deve fazer sonhar”, afirmou o estilista Marc Jacobs ao jornal francês “Le Monde”, na Semana de Moda de Paris. Foi uma grande rabissaca a quem lhe perguntava sobre a crise mundial que dominava – e ainda domina – as machetes. Só que, por mais que a indústria da moda faça de conta que não é com ela, não é beeeem assim, não. Tirando os ermitãos que vivem de luz, todo o resto do mundo é afetado quando uma crise nessas dimensões nasce e cresce bem no meio do coração capitalista: os bancos.
Paris - Louis Vuitton Spring 09, by Marc Jacobs
Não é a primeira crise econômica por que o mundo passa. Pode-se dizer que a Grande Depressão de 1929 foi maior (afinal o que são 13 bancos quebrados, diante de mais de 1.500? Isso só nos EUA), mas veja o quanto o mundo mudou em quase 80 anos! Um banco quebra aqui, ferra uma empresa do outro lado do oceano – ou até um país inteiro, veja o caso da Islândia. E desta vez diversas gigantes da moda serão atingidas frontalmente. No século XXI, uma empresa familiar fechadinha virou coisa do passado. O planeta fashion é dos super-conglomerados, como LVMH (Louis Vuitton, Fendi e Moët & Chandon, entre outras) e PPR (que controla o grupo Gucci), por exemplo. E eles se capitalizam onde mesmo? No mercado de ações!
Na bolsa de valores de Paris, é possível adquirir ações da Hermès ou Dior. Em Milão, temos Valentino e Hugo Boss, do grupo Parmira. Nos EUA, Ralph Lauren. Agora, pense: as estimativas apontam que o mercado acionário global (a soma de todas as bolsas do mundo) já perdeu mais de US$ 15 trilhões com a crise. É MUITO dinheiro, é como se toda a economia do Brasil tivesse evaporado umas oito vezes (o PIB nacional é de US$ 1,9 trilhão). Se eu fosse acionista de qualquer empresa, de moda ou não, de luxo ou não, certamente estaria surtando uma hora dessas. Óbvio que quanto mais forte é uma marca, menos suscetível ela fica à volatilidade do mercado. Mas ninguém passa incólume pela ciranda financeira. Duvida? Olha o gráfico da LVMH:
J'Adore, um dos mais vendidos no mundo
Na França, a indústria da moda só perde para o turismo na geração de divisas para a economia. É uma força gigantesca! Diante de tal cenário, analistas de mercado já apontam que as grifes terão que investir ainda mais em um caminho no qual já vinham seguindo: uma clientela maior e menos seleta. Claro que sempre existirão ricos no mundo, mas nos últimos anos o mercado de luxo vem sendo alimentado por uma classe média que faz malabarismos com o orçamento, mas sabe o que é bom. Gente que não pode se atrever num vestido de alta costura Dior by Galliano, mas que compra um frasco de J’Adore ou expreme no cartão de crédito um óculos, uma bolsa, um chaveirinho…
Ok, falar em recessão é exagero, mas que o ritmo deve cair, isso deve. Depois de crescer 13% em 2007, o segmento de luxo espera uma expansão mundial de no máximo 8% neste ano, segundo a Eurostaf, consultoria do grupo que edita o jornal econômico francês “Les Echos”. Com seus tradicionais mercados (Europa, EUA, Japão) em declínio, especialistas ouvidos pelo jornal apontam que o movimento dessas empresas deve ser nos países emergentes, com economias em expansão, que não estão tão ligados ao epicentro da crise e com um consumo interno aquecido.
Loja da Tiffany em SP
São países como Brasil, Rússia, Índia e China, que não por acaso formam no “economês” a sigla BRIC e que responderam por 26% das vendas da Louis Vuitton em 2007. E aí o nosso país tem pontos positivos e negativos: por um lado, o mercado de luxo cresceu 35% entre 2000 e 2006 e já temos Tiffany, Chanel, Dior, Burberry… por outro, o público consumidor se concentra em SP (principalmente) e Rio. Sem falar na violência…
A Prada, que tinha anunciado a intenção de abrir seu capital em 2008, não é boba nem nada: está tudo suspenso até o mercado se acalmar.
E lembra do tal “Gisele Bundchen Stock Index”, que subia alucinadamente, que passava a Dow Jones e tal? Pois é, despencou. Nem Gisele segurou a crise.
* Não tem jeito. Depois de anos no batente, por mais que eu me esforce pra não falar de bolsas e crises e tais, a repórter de economia acaba gritando!
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